Isabel Nogueira
Carlos Barahona Possollo
Isabel Nogueira
Manuel Francisco Jorge
Paula Velasco
Paula Taborda e Carlos Veríssimo
Carlos Barahona Possollo e Manuel Francisco Jorge
Isabel Nogueira, Paula Velasco e Paula Taborda
Vernissage no Espaço Cultural das Mercês em Lisboa
REGRESSOS…
PINTURA DE BARAHONA POSSOLLO
Quando, há pouco mais de vinte anos, tive o prazer e a honra de patrocinar as primeiras exposições de Barahona Possollo, nas galerias municipais de Setúbal que então dirigia, significativamente intituladas «Regresso à Iconografia» (1992) e «Regresso ao Sublime» (1995), escrevi, em textos de catálogo, que todos os regressos em Arte são reinvenções de qualquer coisa que ainda não foi vista ou de muitas coisas que ainda falta ver e que, em sucessivos momentos históricos do Ocidente, a Arte mudou graças à radicalidade desses regressos/reinvenções. A carreira subsequente do pintor e não só a dele mas as de vários outros jovens artistas portugueses e estrangeiros confirmaram plenamente essas nossas então porventura ousadas afirmações entretanto já trivializadas pela História recente.
Ao contrário do que pensaram os promotores locais dos diversos avatares do late modernism e das suas sequelas post modern, que viram a obra de Barahona Possollo como mais uma «persistência» de processualidades eventualmente ultrapassadas e por isso a tentaram subtilmente silenciar, como tantas vezes tem acontecido neste triste país cujas elites parecem não gostar de pintura (pelo menos tanto quanto gostam das artes decorativas de ontem e de hoje…), a obra do pintor foi, ao longo destes últimos vinte anos, em cada exposição, baralhando os dados dessas críticas e taxonomias apressadas e introduzindo uma extraordinária riqueza de processos de factura, assim como uma ampla pluralidade de referências, não apenas nos géneros e nos temas da infinita História da Pintura, mas também, e sobretudo, em diversíssimas problemáticas da cultura do nosso tempo. Tudo isso fez da sua pintura uma poderosa coleção de imagens que interpelam, com inteligência, profundidade e criatividade dificilmente rastreáveis noutros media, vários aspetos centrais das fugidias identidades da sociedade contemporânea e dos incessantes limites que a afrontam.
Depois do saudável risco que constituiu a sua última exposição individual (a provocatória instalação de pintura intitulada All you can eat, de 2013, que mereceria ficar um dia reunida num único espaço expositivo) e após uma primeira tese universitária dedicada ao conjunto da sua obra (de Guiomar Machaz, defendida em 2014), Barahona Possollo decide uma vez mais surpreender-nos com esta nova mostra, em que apresenta algumas composições de 2010-11, numa certa linha de continuidade com as desses anos e dos imediatos, reinterpretando e «atualizando» com elevado grau de ironia as mitografias clássicas e cristãs, mas em que surgem também quadros maioritariamente de 2014, de pequeno ou médio formato (o que era raro até agora), que aprofundam e diversificam vertentes apenas anunciadas em exposições anteriores.
Uma vez mais se alargam as referências simbólicas e processuais nesse vasto «stock» da História da Pintura. As incursões no domínio da «paisagem» (ou até da «natureza morta») que pontuaram anteriores exposições são agora largamente amplificadas não na escala mas nos territórios conceptuais ou físicos a que se faz referência. Estas novas «paisagens da alma», como queriam Caspar David Friedrich ou o coreógrafo contemporâneo Uwe Scholz (1958-2004), com cuja notável e inquietante obra as propostas conceptuais e plásticas de Barahona Possollo apresentam inesperadas e muito interessantes convergências, para além de perturbadores exercícios de luz e cor, associam a desolação ou mesmo a transfiguração das orografias e dos elementos às ruinas das memórias e à acumulação dos destroços, palimpsestos de registos da História que se oferecem hoje à nossa contemplação voyeurística e culta mas também a uma meditação sobre o sentido e o destino das coisas e dos seres ou simplesmente do Ser.
Todavia, o excepcional pintor da figura humana que é Barahona Possollo tinha forçosamente que a reintroduzir, direta ou indiretamente baseada em modelos reais mas sempre refeita, nas novas composições paisagísticas e atmosféricas de pequeno e médio formato que, em muitos dos casos, terão de ser vistas como estudos para obras de grande escala no futuro. Nelas aprofunda-se a citação e a recriação de múltiplos segmentos mitológicos através da memória da própria Arte, numa confluência de sentidos com as «paisagens da alma», em que a omnipresença do Tempo, nos seus diversos rostos, faz revelar tanto as fragilidades como as resiliências da flutuante condição humana.
Finalmente, sobretudo nas composições de pequeno e médio formato mas também numa ou noutra das grandes composições (na linha, aliás, do que acontece desde a série de 2013), emerge, de forma clara, a marca da execução, quer na factura esboçada e deliberadamente inacabada, quer nas subtis rugosidades da pincelada, que evocam ou citam os violentos empastamentos de Lucian Freud, apenas para nos evidenciar, uma vez mais, que tudo o que vemos e nos deslumbra, no início e no termo das nossas deliciosas digressões interpretativas, não passa de Pintura. E só pode ser Pintura!
Lisboa, Março de 2015.
Fernando António Baptista Pereira
Exposição patente de 5 a 20 de Março, de 3ª a 6ª das 15h00 às 21h00 e sábado das 10h00 às 16h00, no Espaço Cultural das Mercês, Rua Cecílio de Sousa - 94 (ao Jardim do Princípe Real) em Lisboa
http://www.barahonapossollo.com/
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