Artistas
«Aos
Artistas e à Arte dedicamos esta edição natalícia.
Não por
aleatória opção: tão simplesmente, porque este Natal será diferente para a
maioria dos portugueses compensando-o em afectos no que lhe escasseie em
dádivas materiais.
Mas, nem por
isso mais pobre: por parcos que os presentes sejam, ficará mais rico em
entregas pessoais, em comunhão de sentimentos, em partilha de esperanças.
Ao invés de
um declínio material, será um Natal em ascensão espiritual.
Porque nele
ressurgirá a celebração do Ser, em detrimento do Ter.
E Ser é o
reencontro com nós próprios, com a raiz do que somos, para além do que
parecemos ser. Nessa descoberta, qual catarse introspectiva, aprendemos a
aceitar a Vida na destrinça entre o essencial e o supérfluo.
Aprendemos,
enfim, que cada Ser é um livro onde Deus, Ele próprio, escreve.
Escreve-nos
a alma, escreve-nos o espírito, escreve-nos as forças e fraquezas. E, no
epílogo desse livro, escreve-nos que o Ser é o último reduto da Natureza onde
habitam sentimentos e emoções.
Daí a nossa
homenagem aos Artistas, mestres e artífices de estados de alma.
Porque neles
o objectivo profundo é dar mais do que aquilo que têm; e, porque neles,
coexiste a intima percepção de que nada pode sair do Artista que já não esteja
no Homem.
E nesse
altar de sentimentos e emoções, nessa angustiante busca nos recônditos do
próprio Ser, que desperta a génese criativa, esse fulgor vizinho ao êxtase,
essa fusão entre o criador e a criação, como se fora a alma a derramar se nas
tintas de um pincel, no bico de uma pena, no fio de um cinzel, para encontrar,
na Obra, o seu transcendente destino.
Assim é a
singular intimidade emocional do Artista no acto de criar, qual ignoto refúgio,
moldado em insondáveis patamares de sentimentos e abstrações, a que só eleitos
têm acesso.
Nesse
refúgio vive o Artista e nasce a Arte. Um refúgio em que a Arte assume um dom
quase divino: o milagre de ressuscitar, se porventura faz história; o
sortilégio de criar, se porventura faz Poesia.
Por isso a
Arte nos humaniza.
E, nessa
dádiva de humanização, sublima-se a perenidade do Ser, face à transitoriedade
do Ter.
Pois que a
Arte não é, necessariamente, um espelho para reflectir as agruras deste nosso
mundo; bem ao contrário, é um cinzel que nos ensina a esculpi-lo, é um escopro
que nos facilita a moldá-lo.
Mesmo que,
na Arte, a sua verdade possa ser tudo cujo contrário é igualmente verdadeiro».
Editorial de Mário Assis Ferreira
Esta edição de Natal já está à venda nas melhores livrarias do País.
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