O Juízo
«Que me perdoem os prosélitos da Ortodoxia judaico-cristã mas, em meu modesto entender, nada existe de mais relativo que o conceito de Juízo.
Pois que o Juízo é o acto mental de asseverar – confirmando ou negando – um conteúdo afirmável.
Ou, por outras palavras, o Juízo afirma ou nega um predicado de um sujeito – designadamente o do próprio que o formula.
E, nessa qualificação, o Juízo confessa a sua intrínseca relatividade: não escapa, tipologicamente, à inelutável trilogia de só poder ser dubitativo, assertórico ou apodíctico, conforme a sua valoração incida sobre o provável – ou o improvável -, o verdadeiro – ou o falso -, o certo – ou o impossível.
Com a agravante de, implicando uma exigência de verdade, o Juízo tanto poder ser correcto, como resvalar para o erróneo.
A que acresce o perigo de se julgar o particular como acepção do universal.
E que se aprofunda no risco de exercitar uma moral sobranceira que, alheia à perspectiva histórica, não hesita em julgar os homens, os acontecimentos e as ideias.
A menos que, numa visão mais prosaica, Juízo seja sinónimo de cautela, de prudência ou de sensatez.
Mas nem por isso se altera essa sua insíta relatividade: porque cautela pode ser a antítese da ousadia que uma situação de crise impõe; prudência pode ser o coarctar da iniciativa que uma oportunidade oferece; sensatez pode ser a negação ao “golpe de asa” que a criatividade exige.
Talvez por isso hesite em ter Juízo.
Até porque quem, no julgar dos outros, faz profissão de fé, corre o risco de ficar sem tempo para aprender a amá-los!»
Editorial de Mário Assis Ferreira, da Edição Especial da revista Egoísta de Setembro 2011, de Colecção, em formato reduzido, cuja temática é uma oportuna reflexão sobre o Juízo.
Já está disponível nas livrarias e bancas seleccionadas.
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