EGOÍSTA Dez 2020 - Primeira Capa
EGOÍSTA Dez 2020 - Segunda Capa
A edição de Natal 2020 da revista
“Egoísta”
evoca Leonardo Da Vinci e
Raffaello Sanzio
ARTE
NO RENASCER
Não sei se é a Arte que nos liberta ou o confinamento que exalta o devaneio na contemplação do belo.
Talvez porque a Arte seja o lugar de uma liberdade onírica; ou, talvez, porque nela se pressinta o enigma da perfeição divina.
Como se fora uma ideia a converter-se em Obra, uma ideia que nasce em antecedência à matéria.
Eis porque no Natal deste penoso ano de 2020, neste emergir de uma vivência confinante, se impõe o anseio de renascer dessa obscuridade opressiva, de superar a incerteza envolvente, de ganhar asas no vislumbrar de uma outra perspectiva do mundo, como se globo fosse, afinal, uma calota espelhada, pródiga no refulgir de múltiplas facetas.
Desse imperativo, desse inelutável sintoma de urgência, emerge um súbito fascínio pelo Renascimento, qual ideia regeneradora de uma vontade esquacida no despontar de uma nova tomada de consciência.
E regressamos às raízes, ao pensamento serenamente clássico, ao humanismo racionalísta de Erasmo, ao exorcismo panfletário de Lutero, aos escritos de Dante Alighieri e Thomas Mann em busca de uma visão culturalmente identitária do Renascimento.
Identidade que se sublimou na Arte, qual anseio antropocentrista que elevou o homem ao centro do universo, que o converteu em suprema criação de Deus.
Esse, o luminoso paradigma de dois incontornáveis vultos da escola pictórica da Alta Renascença: Leonardo da Vinci e Rafael Sanzio.
volvidos cinco séculos sobre a sua morte - a de Leonardo da Vinci em 1519, a de Rafael em 1520 -, a eles prestamos nesta Egoísta, reverente homenagem pelo inestimável acervo artístico e criativo que tão prodigamente nos legaram.
Rafael, denominado à época "príncipe dos pintores", sublimou na sua Obra a suave regularidade das formas e da cor, o equilíbrio da simetria, a modelação de rostos em luz e sombra - chiaroscuro -, a composição piramidal, a pose de "contraposto", técnicas exuberantemente plasmadas nas famosas "Madonas" que eternizariam a maestria do seu traço.
Já Leonardo da Vinci foi muito mais que um extraordinário pintor. Nasceu para viver à frente do seu tempo e a abrangência do seu espírito visionário, a sede de conhecimento, o fulgor especulativo, exigiriam a leitura atenta das sete mil folhas manuscritas dos seus cadernos de apontamentos conservados em Windsor e partilhados por bibliotecas de Paris, Londres, Madrid, Turim, Milão e, até, na colecção particular de Bill Gates.
Dessa leitura e prolificidade do seu pensamento ressalta uma frase que define o auto-retrato psicológico de Leonardo: "Entender e resolver a incerteza gerada pela ignorância".
Não surpreende, pois, que dessa insaciável inquietude mental, desse irreprimível anseio cognitivo, tenha germinado a fecunda genialidade de Leonardo da Vinci enquanto cientista, matemático, engenheiro, arquitecto, inventor, anatomista, botânico, poeta, músico, escultor e pintor.
E, por exacerbado culto de perfeccionismo, acabou por ser tão escassa quão transcendente, a sua Obra pictórica: a "Última Ceia" - cuja execução lhe consumiu três anos e a "Mona Lisa" - que especialistas dizem ser inacabada - viriam a consagrar-se como as mais famosas pinturas da História da Humanidade!
Será que este trilho inspirador ainda nos ilumina a alma nesta quadra natalícia?
Será que, das brumas da distância, ainda em nós subsiste, qual altar de sentimentos, o apelo ao humanismo renascentista?
E será que neste hodierno mundo em que vivemos, a perenidade do Ser ainda sobrevive à transitoriedade do Ter?
Quero pensar que sim!
Quero acreditar que a Arte, a Cultura, nos humanizam e, nesse sortilégio de humanização, nos inspiram a rasgar, em pórticos de luz, a redentora visão de que renascer é preciso!
Quero, enfim, imaginar o Ser como um livro escrito por Deus, um livro cujo epílogo nos impele ao reencontro com nós próprios, com a raíz do que somos para além do que aparentamos ser.
Daí que o Natal deste ano, tão peculiar em humano distanciamento, não se reduza a um espelho das agruras deste mundo.
Que ele seja, sim, um halo de fé nos desígnios da Vida, qual cinzel que nos ensina a esculpi-la, qual escopro que nos incita a moldá-la!
Eis, então, que o Natal se transcende na sagração de uma festa de amor.
E celebra uma Ideia maior.
Uma Ideia de Futuro!
Editorial de Mário Assis Ferreira
A revista “Egoísta” está à venda no Clube IN do Casino Estoril e do Casino Lisboa. A “Egoísta” tem, ainda, uma campanha de assinaturas e está disponível em www.egoista.pt
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