O DESTINO
E A VIDA
Talvez o Destino, na sua comum acepção, nem se sequer exista! Existirá, sim, um mero percurso entre dois interstícios: o útero, de que nos brota a Vida; a sepultura, que nos recolhe os despojos.
Esses, os indeléveis ditames do Destino: na aleatoriedade com que nos confere o prémio da Vida, na inexorabilidade com que nos cobra o seu preço final.
Como se, pela inocência do acto de nascer, logo o Destino, à revelia do contraditório, nos condenasse à morte...
Nesses dois extremos residem os limites do Destino.
Limites que podem influenciar - mas não predeterminar - o livre-arbítrio da Vida...
Pois que no nascer não é irrelevante onde e como se nasce, os genes de que somos herdeiros, os valores que apreendemos nesses primeiros passos da aventura de existir.
Tal como, na inevitabilidade da morte, não são indiferentes os excessos ou omissões do que fizemos na Vida, para retardar - e aceitar - o seu desfecho.
Todo o resto não é Destino: é Autodeterminação no enfrentar desse trajecto da Vida, tão ameno para uns, tão tortuoso para outros...
Porque é acidentada essa rota: às planícies verdejantes sucedem-se escarpas íngremes, penosas de ultrapassar, enfrentam-se precipícios tão perigosos quão aliciantes se insinuam à vertigem de neles tombar.
Mas, no percurso da Vida, o Destino somos nós!
Mesmo que o existir seja, para alguns, a monótona sucessão dos dias, qual errático percurso de um cego que se deixa guiar pela inconsequência do ébrio.
Para esses, a vida é uma sujeição a infinitas complacências, um vácuo resignado que se imola na abdicação e se esgota no silêncio.
Como quem sabe que se morre sem que saiba porque se vive...
Sem pressentir, sequer, que a força da vontade, longe de ser opção, é uma exigência da vida...
Para outros, os que assumem essa exigência, é na determinação, na autoconfiança, no sentido de missão, que a vida ganha o privilégio de merecer ser fruída.
Viver, porém, é sofrer cicatrizes: dos desafios que se enfrentam e ultrapassam; dos sonhos que se alimentam e se frustram; dos desaires que se convolam em vitórias; das traições que se disfarçam de lealdades; dos desencantos que se redimem em auras de esperança.
Só quem vive sofre; só quem sofre sonha; só quem sonha vive!
Ainda que o sonho roce as margens da utopia e habite uma realidade inventada...
Pois que, no essencial, a Vida faz-nos duas exigências: que a compreendamos e que a vivamos. Na primeira, há que aprender a olhar para trás; na segunda, é obrigatório olhar para a frente!
E, nesse olhar fronteiro, há que vislumbrar, no sonho, os alicerces em que se funda a esperança!
Assim se justifica o ofício de viver. Assim se revoga a prevalência do Destino!
Até que, um dia, esse Destino regresse, quando as estrelas se apagarem e as velas se acenderem.
Nesse ocaso da Vida, surge, inexorável, a existencial incógnita sobre um fim absoluto ou a fé num outro recomeço.
Como se, nesse ignoto recomeço, a Vida fosse, apenas, uma oportunidade de encontro; como só na morte se alcançasse a junção; como se os corpos apenas fossem o abraço; como se só nas almas se encontrasse a plenitude do enlace.
Será esse um outro patamar do Destino?
Ou será, afinal, um desígnio de Deus?
Editorial de Mário Assis Ferreira
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