Tempo Suspenso
Vagueamos num tempo suspenso.
Tempo traidor, que nos secou o tempo...
Como se, subitamente, o existir pairasse entre dois mistérios que se confrontam. Como se vestíssemos corpos desabitados: exaustos da ausência, tementes da proximidade.
Mas há sempre um céu a vislumbrar...
Mais longínquo, talvez, qual vizinho à janela, subitamente mais arredio.
O Céu, porém, pode ser luz ou crepúsculo.
E nesse espectro claro/escuro, eis que nos surge a tentação de Pensar.
Pensamentos solitários, hesitantes na dualidade entre a claridade da esperança e as trevas do desalento.
Numa dicotomia que antecede a razão e nos reconduz à inelutável interrogação: quem éramos, quem somos, o que nos resta voltar a ser?
Fessa dúvida existencial nasce a angústia do futuro.
Será que o futuro nos reserva um recomeço? Ou será que, na sua exiguidade, ele nos limita ao ensejo de um novo começo?
Incerteza que nos impele a adivinhar o porvir e nos dita como presságio a sujeição a um novo começo!
Pois que o tempo parou o tempo, qual salto quântico que nos remete para uma nova era e nos transporta, de um passado que já foi, para um futuro que ainda não é.
Que chegue, pois, cru e lestro, esse novo começar!
E que, ao invés do desânimo, ele nos mobilize em ânimo de resiliência.
Uma resiliência que se alicerce no pensar, qual acto heróico quando se pensa contra o tempo.
Até porque basta o querer, para sermos o que pensamos.
E o pensamento é o prelúdio da acção!
Nesse mergulho reflexivo, nessa dádiva que é o privilégio de pensar, aprenderemos a mitigar receios e encontrar respostas.
Mas respostas que saibam voar para além de egocentrismos e respeitem, na sua abrangência, valores colectivos que nos complementem, suprindo lacunas que nos ultrapassem.
Porque em solitário individualismo, jamais lograremos mudar o mundo: só o mundo, em assomo de ingente solidariedade, pode mudar-se a si próprio.
Bastará que instintos se regenerem, idiossincrasias se esbatam e prevaleça a Razão!
Sem que deixemos de ser o que somos.
Pois o que somos não muda.
O que muda é o que pensamos!
Editoril de Mário Assis Ferreira
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