Egoísta - Edição de Junho 2010
No ano em que celebra o seu 10º aniversário, a Egoísta para o Verão de 2010 é dedicada à Liberdade.
Publicação temática, trimestral, várias vezes premiada nacional e internacionalmente, sempre a surpreender. Desta vez para se desvendar a capa, a revista vai ao micro-ondas…
«A Liberdade Existe?
Uma capa pode ser uma metáfora.
Esta, da Egoísta, talvez seja a metáfora da Liberdade: invisível, vagamente pressentida, exigente no esforço para vislumbrar os seus contornos e logo após desaparecida, se a persistência esmorece.
Assim como a Liberdade, na submissão de que emerge, na transitoriedade em que brilha, no abismo em que se afunda, quando a vontade vacila, se a acção a desmerece.
Talvez porque a Liberdade não exista, na acepção que lhe outorgamos.
Tal como Deus que, se existe, mais se sente na sua ausência.
Tal como a esperança mais resiste, quando a opressão prevalece.
Tal como em prisão mais se aviva a ânsia da libertação.
E esta, que quotidianamente nos cerca, não é, seguramente, a Liberdade almejada, a nascida na razão, merecida na responsabilidade, tutelada na justiça.
É outra, qual cenário orwelliano de uma esotérica Liberdade: ela habita os escombros da ruptura dos valores, alimenta-se de intrigas, devassa-se em escutas espúrias, controla-se em chips delatores, vigia se em câmaras dissimuladas, ilude se em manipulações censórias, substitui-se à justiça em piras incendiárias e imolações na praça pública.
Estranha Liberdade essa, a do transe em que vivemos, a que apenas se vislumbra na esquina dos nossos medos…
Ingrata Liberdade essa, a que nos afronta e enleia, a que nos deixa um País e nos esvai a Nação…
Mas, se não é essa a Liberdade que merecemos, é essa, apenas, a que nos está concedida.
Enganosa como a volúpia do equívoco.
Porque não existe sujeição mais perfeita do que a ilusão que se esconde na aparência de Liberdade: ela cativa-nos o gesto, corrói-nos o anseio, para nos manipular a vontade.
Só que não condiciona, na sua expressão mais lídima, a génese da Liberdade.
Pois essa nasceu com o Homem e com ele há-se ficar: a Liberdade de Pensar!»
Editorial de Mário Assis Ferreira
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