quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

EGOÍSTA - "Era uma Vez...!" - Edição de Natal - Dezembro 2018



Uma estória
- sem final...

Era uma vez... Assim começam todas as estórias da nossa infância, qual prólogo de um aguardado happy end.
Recordo-me em anseio de alma: nelas revivo a voz da minha Mãe, o táctil apelo do seu regaço, o desvelo de inimitáveis gestos de aconchego...
No seu embalo, fui herói e vilão, enfrentei a malícia do lobo mau, fui cúmplice nas mentiras do Pinóquio, fui crente - e interesseiro - na prodigalidade de um Pai Natal, sempre zeloso no cumprir das prendas que lhe havia encomendado.
São memórias que perduram, flashes que iluminam ao longo de uma vida.
A tal ponto que, na escala dessa vácua felicidade que só a fantasia consente, ainda me interrogo se o privilégio, na ingenuidade da criança, se iguala à ventura, no entardecer da vida, de relembrar a infância.
Raro sortilégio esse, o da fantasia: sempre permanece jovem, pois jamais envelhece o que nunca aconteceu.
Como se a infância não fosse, apenas, um tempo, uma idade, um repositório de alegrias e surpresas. Como se a infância não fosse, afinal, um escasso hiato que só dura até que seja demasiado tarde.
Porque depois surge, inevitável, o crescer. Com ou sem fantasias, nesse desmistificador confronto com a realidade da vida.
Mas a fantasia não é, sempre e necessariamente, uma fuga à realidade: é - ou talvez seja - um modo diferente de a entender.
Porque o sonho pode disfarçar a utopia, encobrir a indiferença, limitar a percepção.
E nessa acepção, se é dura a realidade, mais cruel é, ainda, o desfazer da fantasia!
Só que a fantasia também pode ser o sonho, baptizado de desígnios, convolado em aspiração.
E eis, então, que não basta o sonho, mas a encarnação no sonhar.
Como se o mundo não fora o que existe, mas o que pode acontecer.
Como se o happy ending de uma estória fosse a arte de saber quando se fecha o livro e se aprende a inventar o seu desfecho.
Como se o Natal, na transcendência do seu significado, não fosse, apenas, a suspensão, por um dia, da vivência num mundo agreste, em agónica convulsão.
Pois o Natal, tão profundo na sua essência, tão exaltante no Amor ao próximo, parece, afinal, tão precário no exemplo de humanismo que ao mundo devia inspirar...
Porém nada é permanente, salvo a mudança.
E, como disse John F. Kennedy, "a mudança é a lei da vida. Aqueles que apenas olham para o passado ou para o presente irão, com certeza, perder o futuro".
Um futuro imperdível para esse sonho-desígnio dos que sonham acordados.
Sempre despertos, sem jamais fechar os olhos ao futuro da Humanidade.
Pois eles sabem que as pálpebras são a cortina do esquecimento!
Feliz e inesquecível Natal!

Editorial de Mário Assis Ferreira

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