quarta-feira, 22 de abril de 2015

Egoísta - Enigma - Março 2015


O Enigma da Vida 

Enigma é, por definição, algo indecifrável.
E nesse impenetrável mistério reside a síntese de ser-se humano.
Pois que, no âmago de cada pessoa, nos recônditos da sua personalidade, habita o seu próprio enigma: o da subliminar destrinça entre o que diz e o que pensa, entre o que é e o que que pretende ser, entre o que faz e o que imagina fazer.
Seja na visão do "homo homini lupus" ou na teoria do "bom selvagem"; seja no "niilismo" de nietzsche ou na acepção do "humanismo racionalista", não se vislumbra cabal resposta à explicação do inexplicável.
Só uma ascese mística pode fazer justiça a esse enigma do ser humano, conferindo ao seu mistério a grandeza do desconhecido. Um mistério que se perscruta na errância do seu olhar, na policromia da íris, no negro da sua pupila, qual ecrã de uma noite sem estrelas, projectada nas trevas do próprio universo.
Talvez por isso, conclui o filósofo Ludwig witigenstein que a "solução do enigma da vida, no espaço e no tempo, encontra-se fora do espaço e do tempo". 
Ou seja, a sua descodificação não está ao alcance de humanas ferramentas, sob pena de um enigma persistente se transformar em dilema obsessivo, face à ânsia de o interpretar como uma verdade secreta.
Mas é nessa dificuldade do ser humano peregrinar no seu interior, de desvendar as suas quimeras e frustrações, que reside a incógnita da vida: para uns, a monotonia de si mesmos, na constância de um tempo sem sobressaltos metafísicos; para outros, o inconformismo volítivo, no ensejo à auto sublimação e à libertação de um pré-destino.
É essa a inexorável dicotomia imanente ao Enigma do ser humano: a encruzilhada entre o bem e o mal, a vontade e a inacção, o dever e o poder, a justiça e o casuísmo. A opção, enfim, entre a Luz e as Trevas!
E se a Luz ilumina o Homem, as Trevas ocultam o Monstro: semelhantes na aparência, antagónicos na essência.
Pois é o Monstro que inventa a guerra, o genocídio, o terrorismo, enquanto emanação dessa contagiosa estupidez humana através da qual se imagina superar um problema grave gerando outro muito pior. O mesmo Monstro que, em nome da ganância económica, persiste em arrastar o mundo de crise em crise, num rasto de sequelas que assolam a Humanidade, sem vias de cicatrização. O mesmo Monstro, afinal, que encarna na loucura do seu próprio mundo sem nele deixar espaço para mais semelhantes.
Sobrevive o Homem - mais raro, embora -, àquele que crê em Ideais, que cria e se alimenta na Arte e na Cultura, que se entrega, na Ciência, aos valores do Humanismo. O mesmo Homem, enfim, que assume, na solidariedade, o respeito ao seu semelhante, e aprende, na adversidade, o desígnio da regeneração.
Só que dessa dicotomia, não emerge uma resposta para o Enigma da vida. E, se resposta houvesse, ela seria a do Enigma da morte.
Pois que todo o ser humano nasce condenado à morte: ela é, afinal, a pena decretada ao privilégio de viver. E, na sua inexorabilidade, a morte é, apenas, esse outro lado da vida que não está iluminado e nos permanece velado ao longo da nossa existência.
Como se a vida fora o prólogo de um livro cujo epílogo não se consegue ler ...
Por isso a morte,, no seu Enigma, é a transcendente elevação ao "nada do tudo"; por isso a vida, na sua incógnita, é a falível redenção ao "tudo do nada".
Dessa síntese/antítese", dimana a dialéctica de existir: tal como o repto ao paradoxal engenho de saber enfrentar o Enigma sem ousar, sequer, resolvê-lo.
O que inculca um esforço de sublimação na exegese de espírito: pois se é pelo espírito que o Homem se salva, também, pelo espírito, o Homem se perde.
E só a ele compete essa soberana opção: seja o ensejo de buscar na vida um sentido, um ideal de missão, assumindo no existir a dádiva de felicidade com que se molda um destino: seja a vácua resignação a uma outra felicidade indefinida, uma felicidade de abstenção, na vã renúncia em que se arrasta o devir.
Pois o que somos é o resultado do que pensamos. E, no que pensamos, revela-se-nos o caminho!
Esse, o diferencial mistério entre o viver ou o estar vivo, entre a convicção de existir ou a resignação de vegetar.
Esse, o Enigma da Vida!

Editorial de Mário Assis Ferreira

Em mais uma edição de coleccionador, a “Egoísta - Enigma”, como as restantes, é para guardar. A revista encontra-se à venda nas lojas/tabacarias do Casino Estoril e do Casino Lisboa.

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