sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Egoísta - Dezembro 2013


Poesia

Os poetas

«Por paradoxal que seja, esta edição da "Egoísta", em eflúvios de Natal, desperta em mim uma evocação Pascal: mais do que a celebração de uma Natividade, este Natal é, para a Egoísta, uma dádiva de Ressurreição.
Dedicamo-la aos Poetas. Algo que nunca consegui ser, confinado que fiquei ao estilo de uma modesta prosa sem asas para tão audazes voos.
A menos que o estilo fosse a poesia da prosa.
Mas, ser Poeta é bem mais que isso: é mergulhar na essência para alcançar o etéreo; é transbordar em palavras sentimentos desnudados; é despertar em mistérios a inquietude do leitor.
Porque ele, o Poeta, é a plenitude do mundo que em si próprio reside.
Um mundo cujo retrato ele pode revelar ao avesso do resto em que a Humanidade o vê.
Pois que o Poeta, no seu acto criativo, subsume-se naquele fulgor vizinho do êxtase, em que o criador se confunde com a criação, em que o autor se transfigura no que escreve, em que a inspiração se derrama na exaltação das palavras e se verte, em volúpias de capricho, no poema que é seu destino.
Como se fora uma enigmática fusão em que o poema perde a identidade e o Poeta o personifica.
Sem regras, sem tempo, sem fronteiras, na sistémica desobidiência à ortodoxia, na misteriosa vertigem de um alquimista de estados de alma, de um artífice de sentimentos, de um inventor de emoções.
Talvez por isso, nesse insondável patamar de abstracção, o Poeta logra o sortilégio de nos dizer algo que ninguém ainda disse, mas pressentíamos já saber. Não necessariamente a verdade, pois, essa, é o Poeta que cria.
Mesmo fingindo, pois que ele finge sem saber.
Já Fernando Pessoa o sabia: "O poeta é um fingidor / Finge tão completamente / Que chega a fingir que é dor / A dor que deveras sente."
E assim a Terra roda, porque a sua rotação, foi o Poeta que a inventou.
E assim Deus existe, porque a sua omnipresença, foi o Poeta que a criou.
E assim o Natal celebra-se, porque a Paz que o simboliza, foi o Poeta que a cantou.
Por isso, celebramos os Poetas nesta edição de Natal.
Em nome de uma solidariedade que nos humaniza, de uma paz que nos congrega, de uma irmandade que nos une, de uma esperança que nos anima.
Ainda que sejam precárias, face ao mundo que nos cerca.
Ainda que a sua verdade seja o Poeta que a cria.
Porque, num poema, essa verdade nunca acaba.
Apenas se suspende, no ânimo de ressurgir ...
Tal como a "Egoísta" !

(Editorial de Mário Assis Ferreira)

Já está nas bancas.

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