domingo, 14 de outubro de 2012

Egoísta - Setembro de 2012



Altruísmo Egoísta


«Estranha ironia esta, a de uma edição da Egoísta dedicada ao Altruísmo.
Ou será que, por antagónicos que surjam os conceitos, esse mistério que é a natureza humana tende a entrecruzar comportamentos antípodas?
Egoísmo e Altruísmo são coevos na sua origem: nasceram com o Homem e, com ele, assimetricamente se desenvolveram, O primeiro, como gene de sobrevivência  individual predominantemente exercido; o segundo, como gene de sobrevivência grupal, tão esporádico quanto o exigia a ocasional emergência de um esforço tribal colectivo.
De oposto, têm a sua motivação e o nexo de casualidade: o Egoísmo, enquanto instinto primário largamente dominante, busca a vantagem individual e, temeroso à critica, resguarda-se no anonimato: o Altruísmo, enquanto instinto culturalmente burilável, previligia o bem do próximo e, por auto estima, recompensa-se no reconhecimento social.
Essa a razão por que o o Egoísmo e o Altruísmo se propagaram na razão inversa à dimensão das comunidades, em que coexistem; em regra, quanto menos for a dimensão comunitária e maior o relacionamento interpessoal, mais se propícia o ensejo ao Altruísmo; quanto maiores forem os centros urbanos e crescente a vocação de dominância, mas o Egoísmo se propaga, convicto de que a reputação se dilui no anonimato.
Sábio foi Platão quando preconizou que “o tamanho ideal de uma cidade era ser grande o suficiente para as pessoas não saberem o nome umas das outras, mas pequena o suficiente para que todos fossem capazes de reconhecer os outros pela fisionomia”.
Longínquos vão os tempos em que seria factível a filosófica visão desta “urbe”: o que, hoje, apelidamos por modernidade e progresso civilizacional, já reduziu a “platónica quimera” o que foi esse arquétipo de Platão.
Pois o que nos cerca neste extremado mundo em que vivemos, são as mega metrópoles onde milhões de ignotos indivíduos se acotovelam nas ruas, sem sequer se conhecerem; ou, ao invés, são as envelhecidas comunidades do interior, precárias sobreviventes, em que todos bem se conhecem – e nem sequer pelas melhores razões.
Do que decorre que o Altruísmo – ao menos o solitariamente espontâneo – não encontre, na sociedade contemporânea, campo fértil para germinar».

Excerto do belo editorial de Mário Assis Ferreira.
Esta edição especial,  já está à venda nas melhores livrarias do País.

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