Isabel Nogueira
(Na Quinta da Favorita)
Casa de estilo colonial na marginal de S. Tomé
Ilhéu das Rolas
O PARAÍSO EXISTE
Inserida num grupo de
empresários portugueses, que se deslocou à República Democrática de S. Tomé e
Príncipe, à procura de oportunidades de investimento na África de expressão
portuguesa, voei até àquelas ilhas maravilhosas, plantadas no Golfo da Guiné, bem
na linha do Equador, expectante da reacção que o regresso ao continente
africano me provocaria.
Nascida e criada até aos dezanove anos
em Moçambique, a notícia da minha deslocação a S. Tomé, desencadeou em mim um
misto de ansiedade e alegria,
reflexo do fascínio que África exerceu e exerce sobre as gentes lusas há mais
de quinhentos anos.
A correria com os preparativos para a
viagem começara; o visto na Embaixada em Lisboa, as vacinas indispensáveis, a
consulta do viajante no Instituto de Higiene e Medicina Tropical, para se
iniciar a profilaxia da Malária e o seguro de vida. Ter atenção para não
esquecer o repelente de mosquitos, a rede mosquiteira, com cuidados redobrados
ao nascer e ao pôr do sol. Na mala levar roupa leve, fresca e de manga
comprida. Muitos rebuçados e lápis para oferecer às crianças.
O arquipélago de uma beleza ímpar, é
composto por duas ilhas, a principal S. Tomé, que dá o nome à capital com 860
km2 e o Príncipe de 104 Km2 situada a 136 Km a norte e ainda alguns ilhéus
desabitados.
Na aproximação ao aeroporto a ilha de S.
Tomé vista do ar, emerge de um mar azul Turquesa e ergue-se até às montanhas
vulcânicas, cobertas de um verde luxuriante, recortada por praias douradas.
O voo de seis horas foi tranquilo,
prenúncio do “leve leve” quotidiano,
por aquelas paragens.
À chegada, aguardavam-nos o staff do Presidente da República daquele
país africano, visto um dos empresários em viagem ser o seu irmão João Menezes,
nosso anfitrião.
Dirigimo-nos então para o Hotel Miramar
de quatro estrelas, pela marginal e a nostalgia invadiu-me. De um lado a baía
num mar chão a banhar a praia, do outro as casas de estilo colonial, dispostas
em linha, ao longo de todo o percurso, marcas da presença portuguesa,
reminiscências de um passado comum.
Senti-me em família, completamente em
casa. A língua comum, o povo afável e simpático, o mesmo fuso horário, uma
temperatura que oscilava entre os 26º /27º c, numa região em que as
temperaturas médias ao longo do ano variam entre os 23º e os 30º c.
Depois de nos instalarmos e de nos
refrescarmos com um sumo de frutas tropicais, um misto de cajá-manga e ananás,
indiscutivelmente delicioso, começamos com a volta de reconhecimento e os dias
foram passados , com a visita ao mercado – inesquecível; à casa da cultura
instalada num palacete que é uma verdadeira relíquia do século XX, herança
colonial; na Quinta da Favorita , residência oficial do Presidente Fradique
Menezes, de quem fui hóspede privilegiada a partir do terceiro dia de estada em
terras Santomenses; o Club Santana,
situado em Santana na zona sul da cidade, um aldeamento turístico, construído
num lugar de excepção.
Nunca vi tanto verde, é uma
terra fecunda, tudo germina, brota e cresce e na amálgama de árvores daquela
densa floresta tropical reconheci palmeiras, coqueiros, cajamangueiras,
fruteiras, cacaueiros, árvores do viajante, bananeiras, papaeiras, safueiros,
embondeiros e tantas outras, em quantidades inimagináveis. Impressionante. O
clima quente e húmido, funciona como uma estufa. Por lá cai chuva serôdia. A
fruta é dulcíssima.
Tive o grato prazer de ter como cicerone
Lúcia Menezes, mulher do nosso anfitrião e com ela fomos à Praia das Conchas, a
norte da cidade, belíssima com uma temperatura da água do mar apetecível, que
convidava ao mergulho, ali ficamos de molho uma manhã. Visitamos a Roça Água
Izé, vimos a Boca do Inferno e estivemos num lugar mágico - a Cascata de S.
Nicolau – a 3000 pés de altitude, transcendente só visto.
Depois, estive no Paraíso. Ele existe,
tão perto e por tão pouco – O Ilhéu das Rolas ou Ilha de Gago Coutinho – onde
se encontra o marco que assinala a Latitude
Zero, a Linha do Equador, que
divide o Hemisfério Norte do Hemisfério Sul.
Para lá chegar é uma verdadeira
odisseia. Percorrem-se alguns quilómetros por uma estrada sinuosa e estreita
que rasga a densa floresta e nela se atravessam, pessoas, carros, camiões,
motocicletas, animais como vacas, porcos, cabritos, galinhas, garças e rolas
aos bandos, até que se chega a um porto privado onde se encontra uma lancha que
nos transporta ao Paraíso. Um Resort
de luxo, num lugar onde impera o bom gosto, numa simbiose harmoniosa entre
conforto e beleza natural. Paradigma de perfeição.
Algumas horas antes do regresso a casa,
sentada informalmente à mesa, enquanto aguardávamos pelo almoço, na Quinta da
Favorita, tive a honra de entrevistar Fradique Menezes, Presidente de S. Tomé e
Príncipe, para a revista Eles & Elas.